sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Trapaça



Desde que dirigiu O Vencedor David O. Russel se tornou o queridinho da Academia. Seus últimos quatro filmes, conseguiram vinte e sete indicações ao Oscar, entre essas três de Melhor Filme, três de Melhor Diretor e doze para seu elenco, tendo ganhado três Oscars (Ator e Atriz Coadjuvante para Christian Bale e Melissa Leo em O Vencedor e Atriz para Jennifer Lawrence em O Lado Bom da Vida). Mas será que o diretor merece toda essa comoção? A julgar por Trapaça não. Essa é sua obra mais medíocre. Ainda estou tentando entender porque o filme recebeu tantos prêmios na época.

Trapaça, que teve sua história inspirada em um caso real, conta a história de Irving Rosenfeld (Christian Bale) um grande trapaceiro, que trabalha junto com sócia e amante Sydney Prosser (Amy Adams). Os dois são forçados a colaborar com um agente do FBI (Bradley Cooper), infiltrando no perigoso e sedutor mundo da máfia para ajudar a prender alguns criminosos. Ao mesmo tempo, o trio se envolve na política do país, através do prefeito de Nova Jersey, Carmine Polito (Jeremy Renner) que é um político corrupto, embora seja um bom pai de família e bom para comunidade, e através dele eles passam a chegar a grandes nomes da política americana também envolvidos em escândalos de corrupção.

Embora tenha uma história aparentemente interessante, David O. Russell não conseguiu dar o charme necessário para história, tornandoa-a realmente interessante. Algo já aconteceu com vários outros filmes de Hollywood, como por exemplo nos filmes do mestre Scorsese, em especial em Os Bons Companheiros, que a todo momento David O. Russell tentou emular. Não nego que David O. Russell seja um excelente diretor de atores. O elenco está afiadíssimo em especial Amy Adams,que já vinha se firmando como uma grande atriz, algo que ninguém hoje mais duvida. Amy construiu uma personagem sensual sem ser vulgar, frágil sem ser fraca, e de uma importância absurda a trama. Outro destaque é Jennifer Lawrence que novamente deu um show de interpretação como Rosalyn a mulher desequilibrada de Irving (Christian Bale, que diga-se de passagem está muito bem), tudo bem que Rosalyn parece a versão mais velha e mais desequilibrada de Tifanny de O Lado Bom da Vida, mas nada que tenha estragado a performance da atriz. Mas o grande nome do filme é Jeremy Renner que construiu um personagem corrupto, mas que você entende suas ações, e até ficando do lado dele, torcendo por ele durante todo filme. Sério mesmo, ao fim do filme, cheguei a ter pena daquele político corrupto. Algo difícil de acontecer para quem mora no Brasil. Mas Jeremy Renner estava tão bem, que me convenceu. Parecia um politico de verdade.



Mas embora o elenco esteja afiado e entrosado o filme em momento algum decola. Em momento algum me senti envolvido na trama e imerso naquele mundo da máfia, como ocorre fácil em Os Bons Companheiros. Algo que contribuiu para isso foi a narração em off usada em exautão, como em Os Bons Companheiros, mas lá funciona, já aqui... David O. Russell parece que quis fazer um filme didático, explicando cada detalhe do que aparece na tela, do que está acontecendo, e cada detalhe da vida dos personagens, para tornar a história mais real aos nossos olhos, o que realmente não era necessário. Nada contra narrações em off, em alguns momentos elas são realmente necessárias, mas ele usou em momentos chaves da história que simplesmente te tiram do filme e estragam a experiência. Ele simplesmente subestima a inteligência do telespectador.

Outra coisa que te tira do filme várais vezes, a ponto de incomodar, foi o uso excesivo de música. Embora as músicas escolhidas sejam espetaculares, ela aparece em momentos aleatórios que em nada ajudam no desenvolvimento da história e te tiram completamente da projeção. Talvez o único acerto é o momento em que Jennifer Lawrence canta "Live and Let Die", que talvez seja a única sequência do filme que eu tenha realmente gostado. Naquele momento os sentimentos de Rosalyn são os passados pela música, ela canta e dança de forma desordenada e louca, como se estivesse falando com você e conseguimos entender o que ela está sentindo naquele momento. Fora isso, as músicas são simplesmente lançadas de maneira desordenada e sem sentido, prejudicando o momentos chaves da produção.



Mas muito se falou da maquiagem, direção de arte e figurino do filme. Realmente a maquiagem é fantástica em especial de Christian Bale, que mesmo tendo engordado para o filme, ainda usou protese capilar e maquiagem pesada, que em nada lembra o Batman. A direção de arte é realmente muito boa, a reconstituição de época é perfeita, você realmente acredita que o filme se passa nos anos 70. Quanto ao figurino, é muito bom. Mas tenho um problema sério com ele, o decote excessivo de Amy Adams, em vários momentos não consegui prestar atenção ao filme, só conseguia olhar para o decote dela, e isso me fez novamente sair do filme. Mas no mais o figurino é com certeza um dos melhores que vi em filmes que destacam uma determinada época no século 20.

Realmente Trapaça tem seus méritos, elenco, direção de arte, figurino, maquiagem, mas isso não faz dele um grande filme. Como comecei esse texto o filme é realmente medíocre por conta de vários pontos que já falei, e em especial por um roteiro confuso, cheio de idas e vindas dos personagens, com um conceito totalmente corrupto, isso fica claro em uma das falas do personagem do Christian Bale, ele diz que os 'políticos pegaram sim dinheiro com os mafiosos, dinheiro sujo, mas foi para fazer o bem pra população, e isso é descupável', então você pode cometer um crime desde que seja pra ajudar outros? Além do que o filme começa dizendo que o filme foi inspirado numa história real, mas ao fim da projeção fala que tudo aquilo é uma ficção, o que faz com que o telespectador se sinta enganado. Se esse foi o objetivo do diretor, me desculpe não funcionou. Na verdade ele simplesmente chama cada um daqueles que estão ali sentados assistindo ao seu filme de burros, ele subestima a inteligência do telespectador, achando que não conseguimos distinguir o que é real do que é ficção. Trapaça é uma verdadeira Trapaça, que muitos americanos caíram,mas não a Academia. O Filme foi indicado a 10 categorias Oscars, e não levou nenhuma. Entrando assim para o recorde negativo de um dos maiores perdedores do Oscar com 10 derrotas, juntando-se a Gangues de Nova York e Bravura Indômita ambos com 10 derrotas, mas ficando atrás de Momento de Decisão e A Cor Púrpura que são os maiores perdedores ambos com 11 indicações e nenhum prêmio.

Mas parece que a Academia e Hollywood se desencantou com David O. Russell seu último filme Joy, conseguiu apenas uma indicação ao Oscar e apenas um Globo de Ouro para Jenifer Lawrence. É David O. Russell é bom se reinventar senão será apenas mais um em Hollywood.


quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Open Grave



"Open Grave" é um filme dirigido por Gonzalo López-Gallego (Apolo 18), e tem no elenco formado por ilustres desconhecidos do grande público: Sharlto Copley (Elysium e Distrito 9), Erin Richards (da série Gotham), Joseph Morgan (das séries The Vimpire Diaries e The Originals), Thomas Kretschmann (O Pianista, King Kong e O Procurado) Josie Ho e Max Wrosttley. E essa talvez seja a grande virtude no filme, contar com um elenco desconhecido.

O filme começa com um desconhecido (Copley) acordando em um imenso buraco cheio de corpos. Ao acordar ele não sabe quem é, o que faz ali e pior ainda se ele é o responsável por aquelas pessoas estarem mortas. Uma garota muda (Ho) então joga uma corda para salvá-lo, o que o leva a encontrar  uma casa no meio do nada com mais quatro pessoas (Richards, Morgan, Kretschmann e Wrosttley), que assim como ele, não se lembram quem são, porque estão ali, se estão ligados entre si, se têm alguma coisa a ver com a grande cova aberta, não sabem nada. A única coisa que sabem, são seus nomes, isso porque ainda estão com seus documentos. A partir daí começamos a acompanhar a luta dos cinco para descobrir quem são, o que estão fazendo ali e quais são os perigos que os aguarda.



Não posso dar mais detalhes do filme porque esse é daqueles filmes que quanto menos souber melhor é. Mas posso adiantar que esse é um filme tenso, do começo até quase no fim. E uma das maiores virtudes do filme  é o fato de não conhecermos os atores, e com isso nos tornamos seus cúmplices. Não sabemos nada deles apenas temos a impressão de que já os vimos mas não sabemos onde. O fato de não termos nenhum detalhe sobre o passado deles e começarmos a descobrir a história deles juntos com eles ajuda a criar um laço com os personagens que faz com que desconfiemos e torçamos por eles, que achemos que um é o bandido o outro é o mocinho e vice versa. Isso porque passamos a saber das coisas aos poucos em alguns flashes que não  mostram nada ou quase nada, o que nos fazem tirar conclusões que nem sempre são corretas. Essa é a maior virtude do filme e de seu roteiro revelar as coisas de forma lenta e desencontrada.

Outro ponto positivo do filme se dá no fato de o diretor e roteiristas não abusarem dos clichês comuns dos filmes de terror e suspense. Isso contribui para que o filme seja tão tenso, porque você não sabe o que vai aparecer e como vai aparecer. Na verdade há momentos que você fica esperando algo surgir na tela e nada aparece, o que aumenta a tensão. Outro destaque positivo do filme é a falta de trilha sonora, praticamente em todo o filme ouvimos apenas os sons diegéticos do ambiente, ou seja, que os personagens estão ouvindo. E quando a trilha sonora é usada, é de forma tão discreta que só contribui para o clima de tensão que o roteiro criou.



Mas o grande problema do filme é justamente uma de susas virtudes: a tensão criada. O filme vai construindo a tensão de forma genial. Tensão essa que só vai crescendo no decorrer do filme. Mas, infelizmente em algum ponto do filme, o diretor não soube aproveitar o que tinha nas mãos. E a tensão, criada de forma magistral, vai se esvaindo, nos levando a uma conclusão fraca e bem abaixo de tudo aquilo que já tinhamos visto até aquela momento. O diretor simplesmente perdeu o controle da história, e o com isso o filme caiu, e muito, de qualidade. Outra coisa que me incomodou foi o final auto explicativo. Talvez se tivessem deixado o final em aberto, ou até memos explicado mas de forma mais concisa, por deixar explícito apenas o que já tínhamos visto em cena e o restante para nossas próprias conclusões, o final provavelmente seria mais satisfatório.

Com isso o que poderia ser um grande filme independente de suspense com toques de terror, acaba se tornando um filme mediano, que agrada em quase toda a projeção do filme, mas que ao chegar ao final se torna uma grande decepção.